As Festas de Darque

AS FESTAS DE DARQUE

Há quem seja de opinião que os espaços urbanos refletem a alma das pessoas que neles vivem. E em agosto, através das nossas duas romarias mais significativas que são a Senhora das Areias e as Festas de Darque onde se celebram a Senhora da Oliveira, o São Sebastião e o Senhor da Saúde, ocorrendo em espaços bem distintos, permitem aos darquenses refletirem, de facto, as vivências, as memórias colectivas, dando esplendor ao património local, que no seu conjunto é um misto de demonstração de fé e, ao mesmo tempo, um espaço de fruição e diversão.

Mas para que ocorram as festas dando lugar às nossas tradicionais romarias, é necessário que haja cidadãos generosos, homens e mulheres, que ao longo do ano trabalhem denodadamente, dedicadamente. Para esses darquenses vai o nosso respeito e o nosso agradecimento pela sua imponente demonstração de cidadania ativa.

No dia 07 de agosto a alameda do Cabedelo foi pequena para acolher quantos quiseram venerar a Senhora das Areias numa procissão antiga que sob um sol de luz intensa, inclemente, faz com que se contem todos os passos de palpitação de fé em cada um deles, demoradamente. Ali se revivem as esperanças dos que em tempos remotos ocorriam de freguesias de muito longe, a pedir sol, chuva, e a conservação das suas novidades, em especial para que a Senhora livrasse – como muito bem recorda Joaquim Correia – os seus campos, as vinhas e as searas do bicho e da lagarta. Esta prática era feita com muita devoção, ou por voto de promessa.

Na semana seguinte as expressões de memória colectiva e de fé continuaram nas Festas de Darque. A Casa das Artes abriu-se para dar lugar às exposições de Pintura de Rego Meira, do I Concurso de Aventais Bordados à Mão, seguindo-se a sua exposição, e, por último, a preciosíssima exposição da Faiança de Darque, sob responsabilidade do Museu de Artes Decorativas.

Mas a noite do dia 11 de agosto continuou a sua magia na igreja paroquial que acolheu o “Sermão de Santo António aos Peixinhos”, numa teatralização inesperada, mas bem conseguida. No dia seguinte, na sua solenidade vetusta, foi a vez da Fontinha se encher de música, de fado, de amor.

Até que, no sábado, as ruas do centro histórico, limpas e arejadas e engalanadas, palpitando de gente alegre aplaudindo o cortejo de quadros reveladores da sua história e costumes, mansamente ou em cascata, foram revelando Darque “Da Foz a Santoinho”. A cabeça do cortejo da terra da Arminda “Taipeira” encheu-se de bombos, de gigantones e cabeçudos, fazendo vibrar todos os que os presenciavam, recordando a Arminda, em ano de homenagem em que se perpetuou a sua memória.

E foi assim, também, Darque no “nosso querido mês de agosto” de música solta por bandas afinadas e por concertinas coloridas, por precursões de bombos bem puxados por despiques tensos e vibrantes e pelo ribombar altaneiro de foguetes luminosos que ofuscaram a lua nas noites dos arraiais.

Darque das tradições e de memórias, de costumes e de fé na candura de uma procissão de velas de sombras multiplicadoras de cantos marianos acompanhando a Senhora da Oliveira até à igreja, que se embelezou para as solenidades religiosas e que recolheu o Senhor da Saúde num momento solene, palpitante de côr, de intenso sentimento contido.

Foi assim, Darque, nestes dias, terra para além da lenda que cavou apressadamente as areias em monte, heroicamente, pela fé, pelo Senhor.