Faiança Darquense na Casa das Artes

FAIANÇA DARQUENSE NA CASA DAS ARTES

A Junta de Feguesia de Darque com a finalidade de enaltecer a importância social e cultural das Festas de Darque, associou-se à Comissão de Festas promovendo a realização, na Casa das Artes, da Exposição de Faiança Darquense, a cargo do Museu de Artes Decorativas de Viana do Castelo.

A exposição foi aberta no passado dia 11 de agosto pela Vereadora da Cultura, Maria José Guerreiro e permanecerá até ao final de dezembro.

A fábrica da louça de Darque foi fundada em 1774 por uma sociedade de comerciantes vianenses formada por João de Araújo Lima, Carlos de Araújo Lemos, a que se associaram João Gaspar Rego e António Alves Pereira Lemos. As instalações fabris foram instaladas no Cais Novo, nas imediações da actual rotunda do Homem do Rio, de fronte para a cidade, próximo da linha férrea. Contudo, a unidade complementar, moinho para o vidro, foi instalado junto da ponte de Portuzelo, Meadela. Na escolha do local da unidade principal teve forte impacto o facto de ter acesso directo ao porto de mar – zona de S. Lourenço – por onde exportava os seus produtos. Naquela data, Darque pertencia ao concelho de Barcelos. Porém, porque a zona do Cais Novo era o único lugar da freguesia que era cuidado por Viana (in Darque o outro lado da cidade), as peças fabricadas eram identificadas com Vianna, ou U.V.V, ou apenas com um D.

A empresa foi constituída aproveitando o período pombalino de protecção e desenvolvimento da indústria nacional (por alvará régio de D. José de 07 de novembro de 1770), onde se incluíam “…as fábricas de louças estabelecidas em Lisboa e todas as que de futuro se criassem nas outras partes do reino, proibindo a importação de toda a louça estrangeira, à excepção da da Índia, se importada em navios portugueses”. Esta época pombalina, que motivou a reestruturação profunda da sociedade portuguesa de então quer nas relações sócioeconómicas quer de outras bem sintomáticas, vai no sentido de responder à revolução que a burguesia empreendeu a partir de 1820, que avançaria substancialmente em 1834 e se estenderia pelos decénios imediatos. Pretendendo-se, com aquela medida de protecção, restringir o poderio inglês que, na altura, dominava a indústria e o comércio nacional. Porém, a concorrência inglesa, a partir dessa ocasião moveu implacável guerra comercial que causou acentuados danos à indústria de louças nacional tendo muitas empresas soçobrado. No entanto, dada a perspicácia empresarial dos seus donos que recrutaram técnicos e gestores franceses da melhor qualidade técnica, aliada ao excelente recrutamento de pessoal e na óptima matéria prima aplicada que, no seu conjunto, deu origem a produtos de excelente qualidade, a Fábrica de Darque conseguiu resistir.

Produzia peças de grande qualidade, conhecendo-se então pelo vidrado estanhado, bem modeladas, com bordos recortados, decoradas com bandas de Rouen em azul-cobalto pintadas sobre esmalte branco de leite mate ou ligeiramente anilado, cores bem características de verde vegetal e amarelo tostado. A matéria prima empregada no fabrico era o barro de Alvarães, misturado com barro e areia vindos de Lisboa. As peças fabricadas apresentavam distintamente uma flôr de morangueiro – que, hoje, serve para as diferenciar da Louça de Viana.

Hoje, perante o seu espólio podem considerar-se três períodos de produção na Fábrica de Darque – embora, como referem Luis A. De Oliveira e António Matos Reis essas balizas apenas servem para melhor entender a evolução tipológica e decorativa da produção da fábrica.

Nesses ciclos considera-se como o 1º. Período o que está compreendido entre os anos 1774 e 1790; o 2º. Período refere-se ao tempo mediado entre 1790 e 1830; e o 3º. Período está estabelecido pela baliza temporal compreendida pelos anos 1830 a 1855.

O declínio da fábrica deveu-se ao impacto ocasionado pelas invasões francesas aliado à crescente concorrência no mercado da louça inglesa.

A empresa foi encerrada em 1855.

Assim, a exposição desta faiança está na Casa das Artes, desfrute dela e de toda a beleza que encerra dentro dos propósitos pombalinos “tão bem decorada quanto útil” e que são irrepetíveis.

Nota: as fotos são da autoria de FOTOS-JOCA, propriedade da CMVC.