Darque e as Invasões Francesas

DARQUE E AS INVASÕES FRANCESAS

O Cais Velho, em Darque, esse mítico local de velhas chegadas e partidas rio acima, foi palco, no dia 26 de maio, da II Recriação Histórica das Invasões Francesas em Darque e da resistência de heroicos darquenses “salvando o Senhor na areia”.

A noite caiu sob a ameaça de chuva, mas nem mesmo essa vicissitude foi suficiente para demover a presença de um vasto público, que esgotou a capacidade do recinto.

Destacando a importância de preservar e divulgar a memória do património cultural de Darque na construção de sentimentos de cidadania e de comunidade, as associações e as instituições darquenses, na qual se incluiu a Junta de Freguesia, foram incansáveis na preparação do evento, a que aderiram 150 atores e figurantes, dirigidos por José Carlos Loureiro e João Branco.

Este conjunto de pessoas, de forma entusiástica e graciosa, disponibilizaram-se para fazer do momento uma festa da vida, mas simultaneamente, também, prestar um tributo à resistência de darquenses que, há 200 anos, num tempo de complexidade e de tragédia nacional, souberam defender os seus bens e a sua dignidade.

No Largo, a História foi feita de muitas “estórias”, recordando o modo de vida de homens e mulheres, recriando um mercado animado pelos pregões e azáfama dos tendeiros e vendedores ambulantes, pelos ofícios, pelos homens de letras e pelo povo no seu quotidiano. Já a noite caia, com as luzes de velhas lamparinas criando sombras, quando os camponeses, acompanhando um lânguido carro de bois, vindo de nascente, subiram o Largo. Nesta altura, os alunos da Escola Dr. Escola Carteado Mena, dinamizados pelo Prof. Paulo Lima, animavam o Cais Velho. Até que o sino tocou a rebate e o povo entrou em aflição, recolhendo os haveres mais valiosos da freguesia, entre eles o Senhor que estava exposto na Igreja Paroquial, enterrando-os nas areias das margens do Rio Lima, num turbilhão de fé e de religiosidade própria da época, garantindo, assim, que não caiam em mãos indesejadas. O Padre Delfim Sá recolheu num dos Registos Paroquiais da época, que “Todos os objectos de prata foram pilhados pelos franceses, ao tempo da segunda invasão. (…)”Em 1811 não havia sequer uma cruz processional”.

No meio da azáfama e da angústia, surgiu o Juiz que tentou acalmar o povo citando a comunicação de D. João VI, antes da sua partida para o Brasil. Logo após, começam-se a ouvir os tambores da marcha dos militares franceses e da sua cavalaria que, de poente, pela marginal do rio, invadiram o Largo, tomando posse de tudo. Fazem a mudança da bandeira e cantam a marselhesa.

Comandados pelos “Ordenanças”, os temíveis Ordenanças de Darque, o povo revolta-se. Vencem o inimigo, que retirou em debandada e tudo ficou em chamas. Cai na noite o silêncio e o povo foi salvar o Senhor, num cerimonial comovente. A tormenta deu lugar ao silêncio e desenterraram-se as palavras “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Nesta altura, já os espectadores faziam parte da cena, acompanhando a recolha do Senhor até à “capela”.

No final, a fome apertava e as tendas de comes e bebes não chegaram para tantos que pretenderam saciar a fome e a sede duma noite bem passada.

Assim, se faz a história de Darque, com esta Recriação Histórica, como bem disseram José Loureiro e João Branco agradecendo aos darquenses por “fundamentalmente, terem apoiado incondicionalmente, desde o primeiro contato, as nossas utopias e os nossos
sonhos, embarcando nesta viagem, tão custosa como prazerosa, de
recriar um momento histórico de Darque e dos darquenses,
transformando-o num hino à solidariedade e liberdade”.

Na produção do espectáculo colaboraram a: Escola Doutor Carteado Mena, Associação Equestre Beira Lima, Associação de Moradores do Cabedelo, Associação de Moradores e de Comerciantes da Cidade Nova, Associação de Pais da Escola Básica e Jardim de Infância do Cabedelo, Associação de Reformados de Darque, Centro Paroquial de Promoção Social e Cultural de Darque, Comissão de Festas de Darque, Darque Bike Team , Sociedade de Instrução e Recreio Darquense, Sociedade de São Vicente de Paulo Confraria de São Sebastião de Darque, Grupo de Bombos S. Sebastião de Darque, Grupo de Bombos “Os Amigos da Areia”.

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