INAUGURAÇÃO EM DARQUE
INAUGURAÇÃO EM DARQUE DO MONUMENTO EM HONRA À CIDADANIA
No dia 03 de julho, no Cais Velho, neste lugar tão simbólico, num início de tarde ensolarado, perante o rio que faz parte da história pessoal de quase todas e de quase todos os darquenses, com muitos e muitas a presenciarem o acto simbólico da inauguração do monumento a Óscar Monteiro, deu-se lugar à memória e ao exemplo em Honra à Cidadania.
Evocou-se Óscar Monteiro como Cidadão de Honra de Darque pela maneira como exerceu a cidadania, particularmente como médico, poeta e filantropo.
A sua influência, no final da primeira metade do séc. XX, através da sua inquietação de viver num tempo crítico, foi determinante na criação do espirito democrático e do cidadão livre, do gosto pela literatura, pelas artes, pelo desporto, que fez escola na juventude de Darque dos anos 40 do século passado. Hoje, através do que são esses homens, pelo que geraram desde então, pelo que contribuíram para o desenvolvimento e para a afirmação de Darque, são um bom testemunho de que o exercício da cidadania por parte de Óscar Monteiro é um bom exemplo para todos nós.
Este cidadão livre, abriu em Darque o primeiro consultório médico onde serviu a população com sentido de missão, iniciando aqui uma caminhada que teve o apogeu quando foi médico oficial do Papa João Paulo II, por designação do governo moçambicano, por ocasião da visita papal àquele país africano.
Foi poeta, foi Lethesiano Augusto, e a sua poesia está onde o rio corre ou na dor da sua ausência.
Homem eclético, com uma energia transbordante, moldou o seu caracter na memória dos caminhos velhos e no casario do Darque Menor onde viviam barqueiros – que faziam do rio Lima a grande rota comercial – e vendedeiras que abasteciam a cidade de produtos hortícolas, deu asas ao sonho de uma comunidade na construção de um fortíssimo movimento associativo.
Por todos estes atributos faz parte da história de Darque e do seu imaginário, por direito próprio.
No 30.º aniversário da Vila de Darque, em HONRA À CIDADANIA, esta é a obra de um autor que ama profundamente e generosamente a vida, que dedica a outro homem que ajudou, em pleno Estado Novo, a abrir os árduos caminhos da igualdade, da fraternidade e da liberdade. Quis o escultor Salvador Vieira que este homem livre perdurasse num gesto de pensamento, de reflexão, de poesia, na força ostensiva do granito mergulhado na contemplação da água do rio, cortando o vento serpenteando os cabelos das ninfas que são versos “são chama, feitiço, noites fora,/No “Poço da Portinha” em lua-cheia”.
Nesta obra, Óscar Monteiro e Salvador Vieira, o homem, o testemunho e o artista convertemse num cruzamento dos eixos do tempo entre a acção silenciosa do ensinamento e a firmeza da forma que consegue expressar o denso mundo das emoções dada pela generosidade do artista.
Pela mão do escultor, o trovador ficará neste local, que tanto amou, na leve brisa das ondas do seu poema “Existe em mim um Rio”.
O Cais Velho, este incessante rio e a acolhedora paisagem passarão, a partir de hoje, a ter a memória que representam mais rica e mais eterna.