O CDD500ac foi desvendar o Monte do Galeão

O CDD500Ac FOI DESVENDAR O MONTE DO GALEÃO

O CDD500aC – Clube dos Descobridores de Darque guiado pelas técnicas do CMIA- Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental (CMIA) de Viana do Castelo e pelo Gabinete Técnico Florestal da Câmara Municipal de Viana do Castelo, foi desvendar, a partir do trilho do Monte do Galeão, todo um património natural, ambiental e histórico que este monte contém. O evento foi promovido pela parceria constituída pela Junta de Freguesia de Darque e pela Escola Básica 2,3 Carteado Mena.

Cerca de 120 alunos, acompanhados pelas suas professoras e professores, incluindo o Coordenador da Escola EB 2,3 Carteado Mena, numa manhã fresca, mas luminosa, iniciou a caminhada no alto da Quinta da Bouça e, serpenteando ao longo dos abruptos caminhos velhos que compõem o trilho, subiram, numa curta distância, até ao pico dos seus 156 metros, bem arfados e bem suados. Aqui chegados, recordou-se que esta orografia do monte transformou-o, durante épocas, num obstáculo intransponível entre o rio e o interior da margem sul do rio Lima e esse facto foi bem sentido pelos caminheiros.

Na jornada foram feitos pousios nos locais mais expressivos para identificar e dar a conhecer as espécies florestais mais significativas da floresta que estava a ser atravessada. Presenciou-se o medronheiro – e alguns medronhos (frutos) – como árvore de grande significado para o Monte do Galeão, uma vez que noutros locais do concelho só muito raramente é avistada. Mas, também, se chamou à atenção para a extensa mancha de carvalho – alvarinho e americano – que ocupa uma substancial parte dos 20 ha da mata municipal, a que se juntam os sobreiros, as azinheiras, o pinheiro manso e bravo, o cedro do oregon, o loureiro, a figueira, a árvore de incenso, o castanheiro, o sabugueiro, o sanguinho, o pilriteiro ou espinheiro-alvar (árvore secular que pode atingir os 500 anos de vida). Toda esta grande diversidade florestal coloca o Monte do Galeão como floresta especial e única do concelho de Viana do Castelo.

No percurso deparou-se com caminhos sulcados pelas intensas enxurradas e na necessidade de se proceder à sua rápida recuperação. Aproveitou-se a ocasião para falar da areia que afluía nos caminhos realçando-se os aspectos geológicos que constituíram ali uma grande duna primária como resultado de o Monte do Galeão ter sido banhado pelo mar – Período Plistoceno. Vimos, assim, que a observação da floresta ensina-nos muito mais do que se pode imaginar à primeira vista.

Mas, foi com ingrata surpresa que foi avistada no trilho uma nova espécie infestante: o penacho-branco, erva-das-pampas, pluma que se veio juntar às acácias e às austrálias como terríveis devastadoras. Aquela espécie invasora proveniente da américa do sul, é uma erva perene que chega a atingir os 2,5 m de altura. Esta planta provocadora de alergias em humanos, cresce vigorosamente e forma aglomerados densos que dominam a vegetação herbácea e arbustiva. Por isso, se pediu a todos os alunos que pelo seu aspecto acolhedor não a transplantem, uma vez que isso ajuda, ao ser mexida, a que as suas imensas sementes se disseminem.

Chegados ao alto do monte, falou-se das virtudes arqueológicas, panorâmicas e ambientais do Monte do Galeão que constituem um enorme potencial turístico que até hoje não soubemos rendibilizar.

Ali, apontou-se para o que teria sido uma pequena fortaleza erguida pelos moradores do vizinho castro (civilização celta?). Foi explicado que a povoação no Monte Arculo (alto do Monte do Galeão), localizado na vertente voltada ao Rio Lima e à freguesia de Mazarefes, teria aí um sítio de observação sobre a foz do Rio Lima e a entrada na barra, alertando para possíveis invasores. Conta o historiador grego Estrabão, que por volta de 500 aC os celtas, vindos do sul, chegaram ao noroeste peninsular, onde se fixaram e daí estarem normalmente associados à cultura castreja. A sigla CDD500aC (Clube dos Descobridores de Darque) foi constituída tendo por base esse ano histórico que foi tomado como sendo o da formação do castro do Monte Arculo que terá dado origem ao povoamento do que hoje é Darque.

Continuou-se a falar do povo celta e da palavra “darque” que, provavelmente, terá origem naquele povo, relíquia do primitivo culto da floresta – os celtas veneravam os carvalhos porque os consideravam fonte de sabedoria. Destacou-se que esta circunstância poderá ter motivado o topónimo Darque (o primeiro documento que refere este geónimo data de 985).

Até que chegamos à janela aberta sob a sombra de frondosos e vetustos carvalhos do Monte do Galeão, onde se divisa uma paisagem magnífica e intensa de luz, de cores, de energia, de parte de Darque, do rio, da cidade, do Monte de Santa Luzia e do extenso oceano. Perante tanta beleza evocou-se José Saramago, quando afirmava que “Fisicamente habitamos um espaço, mas sentimentalmente, somos habitados por uma memória”, pedindo a todos que no futuro não se esqueçam que nos seus atos – como responsabilidade – terão de ter sempre presente a consciência da nobreza do local, da história do sítio e da sua envolvente. Isto para dizer que a paisagem sendo uma obra resultante da natureza e da história local, sempre em mutação, é, também, um produto social.

Foi quando ouvimos o mais inesperado dos testemunhos que seria possível ouvir debruçados naquela janela: “Que pena o que se vê não ser real!”. Explicando o David, com a sua pronúncia morena e do alto dos seus quinzes anos, que certos locais específicos que constituem a paisagem, quando lá se chega e se habita, não são tão belos como vistos de longe na vertigem da luz e no aconchego da envolvente. Notável expressão reflexiva. Pelo sentimento que encerra valeu a caminhada.

Preparávamo-nos para descer, quando somos confrontados com a notícia de que o projecto de requalificação do Monte do Galeão versando os aspectos Natural, Cultural e Urbanístico não tinha sido considerado elegível na candidatura a fundos comunitários – o projecto foi elaborado pela Câmara Municipal a pedido da Junta de Freguesia de Darque.

A descida já foi feita sob a influência do sol do meio-dia que nem a obscuridade copiosa da floresta amenizou. Chegados ao ponto de encontro, no Parque de Merendas, esperava-nos a sombra, os bancos e o descanso cristalino da água reflectido no espelho granítico do seu imponente tanque. Muitos tentaram-se por um mergulho, mas como a fome apertava resignaram-se para uma altura em que regressassem ao Galeão com os Pais.

Como a manhã estava bonita e a floresta precisava de água, as alunos e os alunos, em conjunto, em prece, dançaram a “dança da chuva” formando um silêncio de vozes onde se escutava, apenas, o esfregar das palmas das mãos para chamar a “chuva miudinha”, continuando, chamando as “gotinhas” batendo com as mãos levemente no peito, e seguidamente, engrossando a dádiva com “chuva grossa” batendo com as mãos no corpo.

Foi um momento muito bonito, alegremente participado e onde todos colaboraram.

No final o gosto pela caminhada e pelo saber que foi desocultando as riquezas naturais na sua beleza e espontaneidade, a história dos locais que integram e dão dignidade ao Monte do Galeão, este conjunto apela ao conhecimento para que todos vejam neste sítio um naco do que implica o amor pela terra, no sentido de que só amamos aquilo que conhecemos.